segunda-feira, 28 de março de 2016

Batman v Superman: A Origem da Justiça

Yo! How's it going?

Mesmo imerso em diversas outras atividades e projetos pessoais nos últimos tempos, simplesmente não resisti à tentação de escrever aqui no blog sobre Batman v Superman, o blockbuster do momento que tem levantado reações extremas do público e crítica Brasil afora. Let's face the music.

Plano de fundo: Dois anos após os eventos de Homem de Aço, o mundo inteiro ainda tenta decidir se Superman é alguém confiável ou não. Para o bilionário Bruce Wayne, no entanto, a resposta é muito simples. 

Convencido de que Superman é uma profunda ameaça à humanidade inteira, Bruce veste novamente o manto de Cavaleiro das Trevas em busca de uma maneira de deter a trilha de devastações deixada pelo kryptoniano. O que ele não sabe, contudo, é que há interesses muito maiores ditando cada um dos movimentos dos dois heróis, e a verdade é muito mais complexa do que qualquer um deles julga entender.  

Papum: Contando novamente com a direção de Zack Snyder (300, Homem de Aço), a Warner Bros. aposta suas fichas em um filme megalômano que tenta funcionar como uma sequência de Homem de Aço (2013), uma introdução ao Batman de Ben Affleck e também um prelúdio para o aguardado longa da Liga da Justiça (2017). E o problema talvez esteja justamente aí.

Diante de tantos objetivos e necessidades diferentes em um único projeto, Snyder faz um movimento arriscado em sua narrativa - ao tentar um distanciamento completo da fórmula repetitiva do Universo Marvel nos cinemas, o diretor dedica toda sua atenção ao tom e estética visual do grandioso projeto, parecendo completamente alheio ao roteiro desconexo de Chris Terrio e David S. Goyer - que sequer cogitam pensar que um pouco menos pudesse significar muito mais.

Estabalecendo competentemente a existência de Bruce Wayne e Batman dentro do universo apresentado em Homem de Aço, Snyder traz uma abordagem nova ao Morcegão que vai de encontro ao que os fãs sempre pediram. Dotado de uma complexidade física invejável, um uniforme incrível e artimanhas de combate tão brutais quanto impressionantes, Ben Affleck definitivamente convence na pele do herói sempre que está em ação. O problema jaz nos bastidores, quando suas habilidades investigativas falham miseravelmente em acompanhar o rumo da trama, colocando o Maior Detetive do Mundo em uma posição antagônica bastante irracional e por vezes figurante - será que o Cavaleiro das Trevas não saberia tudo sobre Clark Kent, tendo estudado Superman com tanto afinco? Por que é que o herói cairia em um plano tão anunciado quanto o de Lex Luthor, quando o mesmo já era alvo completo de sua desconfiança? Qual seria a real importância de Batman durante o confronto derradeiro do longa? Embora primárias, tais perguntas passam longe da lógica de estruturação da trama, preguiçosamente apoiada em nosso amor pelas várias facetas do personagem - sejam elas vindas dos quadrinhos de Frank Miller ou de jogos como a série Arkham ou Injustice, fontes de inspiração contínuas no longa que, verdade seja dita, funcionam muito bem.

Unidimensional desde sua película de estreia, o Superman de Henry Cavill não ganha novos dilemas em Batman v Superman. Sua função em Metrópolis ainda é controversa, e seu semblante continua quase sempre aborrecido. Ao invés de finalmente enxergarmos o personagem como ícone, somos continuamente lembrados de seus fracassos, ao ponto de sequer criarmos um laço humano mais forte com o personagem durante os momentos que não involvam sua mãe - ponto esse já explorado em Homem de Aço e oferecido como uma resolução emocional no mínimo questionável para um confronto que poderia ter sido evitado desde o começo com um bom diálogo. Se em Os Vingadores o quebra-pau dos desentendidos apenas iniciava o filme, aqui ele é explorado de modo central e exaustivo por quase duas horas de projeção, tempo no qual somos expostos muito mais aos defeitos e teimosias dos personagens do que às virtudes pelas quais deveríamos torcer. 

Outra novata no Universo DC, Gal Gadot faz uma boa aparição como Diana Prince, ainda que Goyer, Terrio e Snyder acorrentem sua presença a momentos de pouco planejamento: entre tentativas frustradas de criptografia, clipes explicativos de Youtube e um embarque cancelado por um noticiário de bordo, sua presença é parcialmente comprometida por um arco desestruturado e erroneamente cronometrado por Lex Luthor. Tais meios podem passar despercebidos por boa parte do público diante dos fins que trazem a majestosa heroína em ação, mas certamente aborrecem aqueles que se preocupam com um desenvolvimento coeso de sua trama.

Com tantos problemas de identidade assim, é natural identificarmos no Lex Luthor de Jesse Eisenberg outro ponto questionável do projeto. Embora competente em sua atuação, Eisenberg coloca o personagem muito mais próximo de um vilão do Homem Morcego do que da mente maquiavélica e calculista de sua contraparte em quadrinhos, mesmo que algumas de suas referências mitológicas consigam ludibriar parte do público. Analisadas com cautela, contudo, tais citações provam ser apenas um pouco de pancake para o velho ato do cientista enlouquecido pronto para criar sua arma acéfala de destruição em massa, completamente revelada pela infeliz campanha publicitária que reservou pouquíssimas surpresas aos espectadores que assistiram aos trailers nos últimos meses.

Em meio a tanto tumulto, temos ainda pesadelos nefastos, visões apocalípticas, mensagens intertemporais (ou interdimensionais?) e diversas menções nebulosas ao Universo DC que mais confundem do que preparam o espectador para o que vem por aí. Especular é legal, mas diante de tantos tiros no escuro, fica a impressão de que a equipe criativa da Warner, ainda incerta sobre o futuro do universo criado, traçou tantos alvos quanto pôde, torcendo para que um deles seja justamente o ponto que colocará nos eixos um dos universos fictícios mais fascinantes já criados, mas que precisa ser lapidado urgentemente.

Agora 'nuff said. Se você discorda de tudo que escrevi, como sei que discorda, deixe seus comentários e não leve  nenhuma das opiniões colocadas aqui para o lado pessoal. Debates devem servir como forma de entendimento, e não de brigas!

***

In a nutshell:

- Batman v Superman: A Origem da Justiça -
Thumbs Up: ótimos conceitos visuais de impacto; presença marcante de Ben Affleck como o Cavaleiro das Trevas; Easter Eggs a rodo para os verdadeiros fãs do Universo DC dos quadrinhos; 
Thumbs Down: trama enrolada com motivações muitas vezes frágeis; resoluções sentimentais questionáveis; diálogos de efeito sem ritmo narrativo coeso; multiplicidade de objetivos; necessidade extrema de apresentação de conceitos futuros do Universo DC;