domingo, 4 de novembro de 2012

Deus da Carnificina

Direção: Roman Polanski
Roteiro: Roman Polanski e Yasmina Reza
Elenco: Jodie Foster, Kate Winslet, Christoph Waltz, John C. Reilly

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Yo! How's it going?

Hoje trago a vocês um pouco sobre uma película cujo apelo não é exatamente popular: "Deus da Carnificina", dirigida pelo consagrado Roman Polanski baseada na peça homônima escrita pela francesa Yasmina Reza, que também assina o roteiro ao lado do diretor. Indicado a várias premiações por conta de seu elenco, o cômico e curto longa é certamente uma boa pedida para aqueles que querem sair da mesmice e assistir um filme altamente pessoal e moralmente falho. Having said that, hora de começar.

Plano de fundo: Quando o pequeno Zachary Cowan atinge seu amigo Ethan Longstreet com um pedaço de pau durante uma discussão infantil, tanto Penelope (Jodie Foster) quanto Michael (John C. Reilly), pais da vítima, acham necessário ter uma conversa esclarecedora com Nancy (Kate Winslet) e Alan (Christoph Waltz), pais de Zachary. O que nenhum dos quatro sabe, contudo, é que o simples debate está prestes a ganhar proporções absurdas em uma verdadeira sessão psicológica que fará daquele talvez o pior dia de suas vidas.

Papum: Sendo fã do cineasta Polanski, foi com bastante curiosidade que decidi conferir "Deus da Carnificina", especialmente pelo elenco reunido na montagem do filme. Ao assistir o longa, então, a impressão que fica é justamente a que tinha inicialmente: Polanski entende as personagens que tem em mãos e o talento de seus artistas, agindo como intermediador o tempo inteiro para uma interação realmente interessante entre seus atores, cuja competência já foi provada há muito tempo. O resultado é um filme inteiramente humano de alto nível de trivialidade que não deve provocar gargalhadas, mas sim honestos e sinceros sorrisos com sua atmosfera de confinamento e os caminhos inusitados percorridos por suas personagens.

Trabalhando com um enredo puramente construído por diálogos que muitas vezes beiram o cinismo e a ironia, "Deus da Carnificina" posiciona suas personagens aparentemente civilizadas em uma discussão pré-pensada que nenhum deles gostaria de ter, mas um falso senso de moralismo os obriga a realizar. A tensão entre os pais existe e é quase palpável, fato que inevitavelmente acaba fazendo com que formalidades logo sejam deixadas de lado para que ataques de nervos e críticas incessantes sejam disparadas por todos os cantos do apartamento dos Longstreet, revelando assim grotescas falhas de caráter dos quatro adultos e fazendo cair as máscaras que cada um deles veste com muito esforço. É interessante observar como a tentativa formal de um acordo contrasta com o impulso das personagens e até mesmo como seus filhos haviam resolvido o conflito entre eles: sendo crianças, bastara Ethan chamar Zachary de dedo-duro para Zachary acertá-lo e assim terminar seu pequeno embate. No mundo adulto, as coisas não podem ser assim, e as regras de civilização constantemente impostas pela sociedade tem um peso sobre as personagens em cena, ainda que sejam estúpidas, como pensa o irônico Alan, interpretado pelo ótimo Christoph Waltz. 

Também merece destaque a construção de estereótipos realizada por Polanski a partir do nível social de suas personagens e como isso inevitavelmente faz parte do conflito abordado. Representando a classe alta e sempre bem-vestida, Alan é o executivo sempre atarefado cuja vida se atrela ao celular e seu trabalho, enquanto sua mulher Nancy é uma investidora igualmente poderosa que, como muitas mães, apenas finge se importar com questões familiares. Do outro lado, representado a classe média e trajando roupas mais casuais, o retrato montado repousa sobre Michael, trabalhador comum dono de um serviço de peças que finge ser hospitaleiro e sua esposa Penelope, escritora metódica e bipolar sempre on edge atrás de uma máscara de organização e sensibilidade. O resultado diverte e mostra com eficiência a estranha incompatibilidade entre os dois núcleos, que não mede palavras um contra o outro quando um pouco de bebida faz caírem as máscaras e aflorarem os pensamentos. Nessa nota, é interessante notar como a personagem de Waltz é a única que não altera seu comportamento depois de beber, mostrando que a arrogância e antipatia que tinha antes eram intrínsecas e não sentimentos suprimidos, fazendo dele talvez a personagem mais autêntica entre os quatro.

Agora 'nuff said. Continuem a seguir o blog e até a próxima!

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In a nutshell:

- Deus da Carnificina -
Thumbs Up: grande elenco em ótima sintonia; confinamento de espaço muito adequado para a construção de tensão social; humor ácido e direto; destruição de máscaras divertida e inevitável;
Thumbs Down: mesmo alteradas, personagens se limitam no uso de um linguajar mais pesado, prendendo um pouco suas discussões; falta de elaboração na conclusão da trama;

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