quarta-feira, 1 de agosto de 2012

The Books of Magic: Reckonings


Autor: John Ney Rieber
Artistas: Peter Gross e Peter Sneijbjerg 

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Yo! How’s it going?

A bola da vez de hoje é a série “The Books of Magic”, título criado por Neil Gaiman no início dos anos 90 que ainda gera certa polêmica entre os aficionados por fantasia; afinal, muitos acreditam que Harry Potter nada mais é do que um plágio da série de Gaiman, que também narra as aventuras de um garoto inglês e sua jornada no mundo da magia. As semelhanças, no entanto, param por aí, e qualquer um que realmente leu tanto “The Books of Magic” quanto os livros de J.K. Rowling tem plena ciência e conhecimento do abismo que separa tais tramas. Aqui no Brasil, só o primeiro e único arco escrito por Gaiman foi publicado, recebendo o nome de “Os Livros da Magia”.

“The Books of Magic: Reckonings” é o quarto encadernado da jornada de Timothy Hunter para se tornar o maior mago do mundo (e o terceiro sem a presença de seu criador). Vamos ao que interessa, então.

Plano de fundo: As coisas não vão muito bem para Tim Hunter. Seu pai, William Hunter, recuperado de um terrível incidente causado por forças mágicas, recebe alta do hospital e volta para casa. O problema é que Tim não sabe como lidar com isso. Afinal de contas, desde o falecimento de sua mãe, seu pai não passa de uma figura ausente e sedentária mais preocupada com o mundo por trás das telas do que aquele onde vive.

Para piorar as coisas, a namorada de Tim, Molly O'Reilly, não está nada contente com o garoto e a loucura sem precedentes que agora rodeia os dois. Pois bem, é justamente em um dos pitis de Molly, então, que ela dá as costas a Tim e suas criações fantasiosas para poder espairecer; caminhada essa que a faz ser capturada por estranhas criaturas pré-históricas e pueris que a levam onde nenhum mortal deve supostamente pisar: o inferno.

Se quiser rever Molly, Tim deve descer ao submundo e enfrentar a astúcia de diversos demônios em seu caminho, mais um obstáculo para o crescimento de seus já latentes poderes. No meio dessa jornada, porém, Tim deverá enfrentar um desafio ainda maior: as inúmeras facetas de sua personalidade e o verdadeiro poder dos contos-de-fadas.

Papum: “The Books of Magic” é sempre uma leitura curiosa. Se a escrita de John Ney Rieber não é tão potente quanto a de Neil Gaiman, ela pelo menos mostra sensibilidade e criatividade o suficiente para sequenciar um trabalho que não usa magia como algo pronunciado por palavras estranhas, mas sim como um elemento cósmico de divino acesso e pouco esclarecimento.

Em “Reckonings”, Rieber mantem o ritmo previamente estabelecido na série e ainda adiciona mais pitadas de contos-de-fadas em sua narrativa, criando dois contos bem interessantes que, por mais lúgubre que sejam, têm uma moral e servem de aprendizado para as protagonistas, elevando a obra no momento certo: o encontro de Tim e Molly no inferno e a paradoxal inocência do ato inteiro.

O conflito entre Tim e suas facetas também é interessante, mas acaba jogado de escanteio sem uma devida resolução, o que deve ser o ponto mais fraco do volume. Em contrapartida, a presença do demônio Barbatos e seu plano de trazer mais almas para o inferno entrega uma interessante subtrama ao leitor, que pode se divertir bastante com as inúmeras referências à cultura pop contidas no inferno: de slogans a dinossauros cor-de-rosa. A presença dos bizarros répteis, aliás, cutuca a alienação causada por programas como Barney & Seus Amigos, dando à história divertidas vertentes para interpretações singulares. Somado a isso também temos a moral do volume inteiro de “Reckonings” e a verdadeira materialização de um conto-de-fadas, destruindo assim o disfarce criado por Rieber durante o volume inteiro. A arte de Peter Gross, cujo trabalho em "The Unwritten" considero ótimo, também joga a favor de "Reckonings" e lhe garante a alegoria e fantasia que a obra merece.

‘Nuff said, now. Até a próxima!

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In a nutshell:

- The Books of Magic: Reckonings –
Thumbs Up: argumento inocente e inventivo de John Ney Rieber, apoiando-se no espírito de contos-de-fadas para a construção de seu próprio cenário; arte simples e folclórica de Peter Sneijbjerg e Peter Gross; boa abordagem do relacionamento entre Tim e Molly;

Thumbs Down: resolução fraca do conflito entre Tim e suas facetas; ausência de uma conclusão para a subtrama do anjo Araquel; exclusão de personagens de Faerie como Titania ou Auberon;

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