sexta-feira, 20 de julho de 2012

Pulp Fiction - Tempos de Violência

Direção: Quentin Tarantino
Elenco: John Travolta, Samuel L. Jackson, Uma Thurman, Tim Roth, Bruce Willis, Harvey Keitel, Amanda Plummer, Ving Rhames

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Yo! How’s it going?

Sim, eu já sei. É uma vergonha alguém como eu, que diz gostar tanto de cinema, assistir Pulp Fiction somente agora, com meus 26 anos de idade. Em minha defesa, porém, consta o fato de, por algum motivo que ainda não compreendo, não ter gostado de Kill Bill e injustamente generalizado e diminuído os demais trabalhos de Tarantino a partir dali. Coube então a Bastardos Inglórios abrir minha mente e coração ao cineasta, e agradeço aos céus por isso ter acontecido. Afinal de contas, Pulp Fiction é bom demais.

Plano de fundo: Marsellus Wallace (Ving Rhames) é um poderoso gângster que, como todo bom chefão, tem total controle sobre seus negócios, capangas e mulher. Primeiramente, no entanto, sua presença é mais um elemento mítico do que físico, já que a história de Pulp Fiction é narrada a partir de personagens cujas histórias todas têm, de pequeno a alto grau, uma conexão com Marsellus (tudo ao melhor estilo Tarantino, é claro). Os protagonistas dessas subtramas, divididas em verdadeiros capítulos, são o icônico Jules Winnfield (Samuel L. Jackson) e seu esquentado parceiro Vincent Vega (John Travolta), ambos capangas de Marsellus; Mia Wallace (Uma Thurman), esposa de Marsellus; Butch Coolidge (Bruce Willis), pugilista que faz um acordo de entrega de uma luta a, vejam bem, Marsellus; e Pumpkin (Tim Roth) e Honey Bunny (Amanda Plummer), dois assaltantes medíocres presentes no lugar errado e na hora errada, cujas presenças abrem e encerram o filme.

Em seu episódio inicial, batizado informalmente de prólogo, Pulp Fiction nos apresenta as personagens das subtramas a serem narradas em cenas diferentes. Na primeira, conhecemos Pumpkin e Honey Bunny enquanto o casal discute os prospectos de suas vidas e carreira no mundo do crime. Somos então apresentados a Jules e Vincent enquanto a dupla tem de resolver um assunto nada agradável com um ingrato “parceiro” de seu chefe: a entrega de uma maleta cujo conteúdo é inestimável ao grande Marsellus. Por fim, vemos a concretização do pacto de Butch com Marsellus pela entrega de uma luta. Daí pra frente, histórias específicas e não-lineares deslumbram o espectador com interesse singular e brutalidade repleta de cinismo.

O primeiro capítulo, intitulado "Vincent Vega e a esposa de Marsellus", narra a noite em que Vincent é incumbido por Marsellus a tomar conta de Mia, esposa do gângster viciada e alienada. O segundo capítulo, "O Relógio Dourado", descreve o passado do pugilista Butch e  sua saga para tentar escapar das garras de Marsellus após a quebra do trato feito pelos dois, deixando um rastro de sangue, mortes e violência pelo caminho. Já no terceiro capítulo, "A Situação Bonnie", situado cronologicamente depois da introdução de Vincent e Jules no prólogo e antes da cena de abertura, os dois capangas de Marsellus têm um problema a resolver quando pedem a ajuda de Jimmie (interpretado pelo próprio Tarantino) para livrar o próprio carro de evidências de um homicídio realizado depois de os dois terem conseguido a pasta de Marsellus de volta. O problema é que a esposa de Jimmie, Bonnie, não pode saber sobre a situação de modo algum, o que requer que um profissional ajude os atrapalhados e falastrões capangas a sair da delicada situação onde se encontram.
      
Por fim, o epílogo remete à cena inicial e, apesar de não ser cronologicamente a última trama do filme, encerra a película num tom divertido ao resolver seu conflito.

Papum: A relevância cultural e o legado de Pulp Fiction são inquestionáveis; de frases como “I dare you, I double dare you motherf*%$” ou “mi casa es su casa” a citações bíblicas ou toda uma mudança no cenário cinematográfico dos anos 90 (que passaram a observar com mais importância pequenos nichos do mercado, ressuscitaram o estilo noir e ainda viram todo o potencial do cinema independente), o filme, como alguns críticos sempre denotam, “alterou o jogo”. Em tempos onde mesmice e previsibilidade tomavam conta das telonas (alguma semelhança com os dias de hoje?), Pulp Fiction, em toda sua brutalidade e até mesmo banalidade, estabeleceu um novo patamar de entretenimento, uma pequena revolução contra a chatice narrativa instalada em Hollywood. Assim sendo, uma verdadeira horda de filmes nos mesmos moldes foi lançada nos anos seguintes, seguindo a fórmula não-linear do enredo de Tarantino e a ambientação noir da película.

Em termos de roteiro, escrito pelo próprio Tarantino e Roger Avary, pouco posso falar de Pulp Fiction. Repleta de reviravoltas, a trama é sem dúvida bem estruturada, apoiando-se na trivialidade de alguns diálogos durante a construção de cenas para ampliar o suspense e brincar com a expectativa do espectador, entregando o prometido (e até algo a mais) sempre em um timing que impressiona. Aliás, essa é uma das assinaturas de Tarantino, que sempre diz que criar um filme, pelo menos para ele, é estar envolvido em absolutamente todas as etapas do processo: da criação do roteiro até os estágios de pós-produção da película. Isso leva tempo, como ele constantemente frisa, e impede que um diretor trabalhe com um grande número de filmes em um curto espaço de tempo, mas é certamente a forma ideal de se deixar um legado cinematográfico que supere o desafio do tempo e torne-se imortal (ou pelo menos beire isso).

Se o enredo e clima de Pulp Fiction são muito bem polidos, a mesma coisa pode ser dita da atuação do elenco central do longa. Ressuscitando John Travolta e trazendo Samuel L. Jackson em uma de suas atuações mais memoráveis (se não a mais), o filme ainda conta com uma icônica performance de Uma Thurman (ainda que seu tempo de cena não seja grande), e uma bela performance de um dos astros mais bem pagos da época, Bruce Willis. A presença do ator, a propósito, também foi algo de debate quando o filme foi lançado, já que raramente um artista de filmes tão populares e tão bem-pago era visto em produções independentes.

No geral, então, pode-se dizer que Pulp Fiction é um filme completo. Banal, surpreendente, grotesco e engraçado, por mais paradoxal que pareça, o longa é uma pedida obrigatória aos amantes da sétima arte. Isso não significa, porém, que é um filme que agrade a todos, em especial fãs hardcore do selo de qualidade Michael Bay ou estouros de bilheteria como Crepúsculo, Atividade Paranormal ou 90% dos filmes de super-heróis no mercado. Pulp Fiction é bruto, e não tenta ser mais do que realmente é, motivo talvez pelo qual seu sucesso tenha sido tão aclamado. Afinal de contas, quando se cria uma ficção, seja ela cinematográfica ou literária, quebrar uma promessa estabelecida silenciosamente com o espectador ou leitor da obra é um ato imperdoável. Pulp Fiction, felizmente, não o faz.

‘Nuff said, now. Deixem seus comentários sobre o filme e até a próxima!

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In a nutshell:

- Pulp Fiction - Tempos de Violência –
Thumbs Up: enredo afiado e diálogos agressivamente banais que brincam com a expectativa do espectador ao prepará-lo para eventos importantes; alto nível de criatividade e originalidade, formando um padrão seguido por alguns cineastas até hoje; sequências de filmagens simplesmente memoráveis em sua naturalidade; personagens divertidos e complexos na medida exata; enredo não-linear de fácil assimilação;
Thumbs Down: ------

2 comentários:

  1. Que legal! Adoro o Samuel L. Jackson!!! Para quem não é grande entendedor de cinema, como eu, é bom ler críticas de produções independentes para ter uma ideia do que vale a pena ver!!Estou adorando o blog, Fê!!

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  2. Eu li sobre Valente..eu achei muito legal,eu gostei muito sobre o que vc escreveu,eu achei demais....

    Eu estou amanado o seu blog Felipe^^

    Beijão da Bruna Tiemi

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